Tudo começa na temporada 2015/2016, após a saída de uma das equipes do campeonato nacional de basquete por problemas financeiros.
Numa parceria entre a Universidade Salgado de Oliveira (Universo) e o Esporte Clube Vitória, a cidade de Salvador/BA ganha uma vaga na elite do basquete nacional, a primeira do estado e apenas a segunda equipe do nordeste a integrar o Novo Basquete Brasil (NBB) que é a primeira divisão da liga nacional, chegando aos playoffs da competição nas duas temporadas em que disputou, tendo conquistado na última (2016/2017) o terceiro lugar.
A casa do Universo/Vitória é o Ginásio Poliesportivo de Cajazeiras. Localizado no bairro que dá nome ao complexo esportivo, a população soteropolitana abraçou a equipe desde o início do projeto e em todos os jogos em casa um bom número de torcedores apoiam e vibram do início ao fim.

Não estou aqui hoje para falar da importância que os esportes olímpicos tem para os clubes de futebol, seja no fortalecimento da marca ou no aumento da receita, vim dividir com vocês uma tarde especial e que serviu para me mostrar de uma vez por todas que o bordão: “não é só um jogo de futebol” se estende a todas as modalidades esportivas, podendo ser adaptada nesse caso, para: “não é só uma partida de basquete”.
Como alguns de vocês devem saber, sou atleta profissional de futebol. O que a maioria provavelmente não imagina, é que sou filho de pais esportistas, mas que apesar do destaque que tiveram no âmbito escolar e amador, acabaram não se profissionalizando nas suas modalidades.
Meu pai era jogador de handebol e, minha mãe, de basquete. Ambos na cidade de Maceió, capital alagoana. Na época de colégio eu cheguei a integrar equipes escolares das duas modalidades, não fazia feio, mas passei longe do destaque deles.
Deixa eu contextualizar para vocês a história de: “Mainha”, assim dá pra ter uma noção melhor do que representou a tarde do último domingo para nós. Começando pelo “começo”, ela se chama Vera e tem 49 anos, tendo dedicado integralmente ao basquete, 10 anos, dos nove aos dezenove anos (1977-1987).
Na década de 80, era mais conhecida como: “Verinha” e foi sempre destaque nas equipes em que atuava, como armadora, onde graças ao seus desempenhos individuais era bolsista em colégios e clubes sociais tradicionais da cidade. Ganhou por duas vezes o principal torneio do estado, os Jogos Estudantis de Alagoas (JEAL), e teve o seu auge coroado com a convocação para a Seleção Alagoana Juvenil (Sub-17).
Lá se vão 30 anos longe das quadras, com algumas exceções, como quando por duas ou três vezes fomos a uma quadra pública próxima da nossa casa para que disputássemos quem fazia mais cestas, onde eu era derrotado com certa facilidade, ou nas vezes em que foi assistir, orgulhosa, alguns treinos e jogos que fiz pela equipe do colégio.
Como não poderia deixar de ser, assistimos alguns jogos de Pan-Americanos e Olimpíadas juntos pela televisão, com ela sempre deixando bem claro: “Prefiro assistir o basquete masculino, porque tem mais fintas e jogadas de efeito”.
Já se passaram pouco mais de dois anos desde a chegada da equipe da Universo/Vitória a Salvador, e junto com ela, o sentimento de obrigação de ir à pelo menos um jogo da equipe, afinal, por conta da dificuldade na captação de patrocínios, muitas equipes tem uma trajetória nômade, e se forem embora daqui, sabe se lá quando teremos novamente atletas profissionais atuando em solo soteropolitano.
Por conta da nossa rotina e das vezes que precisei morar em outras cidades por conta do futebol, acabamos não conseguindo ir assistir a nenhuma partida sequer. É o que tem de melhor no basquete nacional, e eu não havia ido com ela ainda!
Graças a uma dessas promessas clássicas que fazemos no fim de ano, lhe garanti que em 2018 iríamos finalmente ao Ginásio de Cajazeiras, o qual também não conhecíamos, para assistirmos juntos e pela primeira vez, uma partida profissional de basquete. Tudo na vida tem seu tempo, e eis que finalmente chega o grande dia, que tarde mágica!
Para começar: o ingresso era 1kg de alimento, a serem distribuídos em ONG’s da região. Dois quilos de açúcar entregues, entramos e o que vimos foi uma arquibancada cheia e a equipe baiana voando em quadra.
Não havendo a menor chance para os adversários do Minas Tênis Clube, concorrente direto na tabela de classificação, que voltaram pra casa com uma derrota de 82×57.
Presenciamos mais uma (dentre as várias desde a sua chegada a Salvador), tarde inspirada do maestro da equipe, o Americano Kenny Dawkins (foto)

e do grande destaque e cestinha do jogo, o pivô Maique (foto)

Outro momento que marcou bastante ocorreu no final do último quarto, onde, após incessantes gritos da torcida, o técnico Régis Marrelli, que no intervalo havia recebido uma homenagem pelos 300 jogos como treinador na NBB, para alegria da galera, colocou em quadra o meu conterrâneo Marcelo.
Nascido e criado no bairro da Cidade Baixa, ele tem 21 anos e foi o vencedor de uma peneira realizada no início da temporada 2017/2018, que visava dar oportunidades a um garoto da casa e claro, lhe garantir uma bolsa de estudos na Universidade Salgado de Oliveira (Universo), onde, hoje está cursando Educação Física. Foi demais vê-lo atuando, mesmo que por poucos minutos.
Para nós, não poderia ter sido melhor! Levarei para sempre na memória essa tarde inesquecível, obrigado Universo/Vitória! Nos vemos novamente no Ginásio de Cajazeiras, em breve!

P.S.: Gostaria de deixar registrado um agradecimento à Maurícia da Matta, fotógrafa do EC Vitória, leitora e parceira do L&F por ter gentilmente cedido as fotos. Acompanhem o seu excelente trabalho no Instagram: @mmattafotografia
P.P.S.: Deixo registrado também uma crítica: inacreditavelmente, falta estacionamento para a torcida no ginásio! Ele conta com cerca de 40 vagas, mas todas são integralmente disponibilizadas para as equipes e familiares dos profissionais envolvidos na partida, obrigando o torcedor a estacionar o carro/moto nos arredores do ginásio, onde há um número escasso de vagas.